24 de maio de 2009

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Roberta, como sinto sua falta. Sumiu, te deixei ir, te assassinei, te esqueci ou te deixei de lado. Como sinto sua falta. Daquela antiga forma ainda não consegui me apaixonar por você. Não é possível, eu sei, você sabe também, (mas) não é estranho? Sempre lembro que não fizeram palavras pra eu poder descrever essa nossa realidade e torná-la pública, eu sei que não é possível, e mesmo que você me diga que não faz nem sentido querer, sei que também tem curiosidade em saber como ela ficaria num papel, que forma teria e se teria essa mesma cor. Onde você está? Digo, em que pé, e como anda. Como sinto sua falta. Te desculpo por não poder existir, fique tranquila. Você me olha assim de cima, como um ente, como um espírito entrando nas coisas para me dizer o que fazer, o que ver, para me dar experiências que em vida não pode me dar. E por que não pode, por que não existes, Roberta? Mandaste um corpo com seu conteúdo só que autônomo, com cobras com outros nomes em sua cabeça de medusa. Roberta, como sinto sua falta. Meu amor imaginário, meu complemento imaginário, minha perdição imaginária. (E ainda assim não te quero.) Te esconderam numa gaveta muito bem guardada, te tiraram da minha vista e até tomei ônibus sem vaguear em suas memórias por muito tempo. Mas agora, pela noite e com um tempo meio gelatinoso que parece me englobar e abraçar, te encontro. Me lembro quando esse quarto era só balões e colchão, lixo e malas abertas. Agora com tudo arrumado tenho exponencialmente menos espaço, e você ainda ficou na Alemanha, naquela sala de estar meio escritório meio closet, naquela janela de cortina transparente e aquela manhã clara, aquele aquecedor branco, aquelas toalhas e a mesa cinza do computador. Você ficou lá com as putas de Garcia Márquez e as outras paixões que inventei para me manter. Naquela época você rodava e tomava ônibus, amava e dormia para trabalhar no dia seguinte numa empresa cujo nome eu ainda não havia inventado, para aquela vida medíocre que você tinha. Depois te encontrei numa boate brasiliense, só o nome, não o corpo nem os movimentos. E de então te colei no nome de Rebecca Borges, de família interiorana e bonita, que tem história de vida e é assombrosamente humana, que me sentou no topo de um prédio pela primeira vez e me ouviu falar de si porque, por mais que fale muito, fala menos que eu. Depois te perdi nos semáforos e na rotina de uma faculdade estranha, te deixei nos banheiros e não te vejo nos corredores, e talvez você esteja nas cartas de Tarot jogadas em sofás verdes, talvez você esteja nessas minhas gavetas desarrumadas. Sinto sua falta e você já não existe. Me deixou com um quadro, um quadro vivo, uma pintura, uma mistura de Magritte, Kandinsky, Delacroix, Schiele, Munch, Goya e todos os outros que ainda não conheço, entende a confusão que você fez? Me deu várias coisas e foi embora, e agora aparece, de leve e de soslaio, para mandar um aceno e matar as saudades de mim.
Beijos e carinhos,
meus

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