15 de janeiro de 2014

Conversam-se duas vértebras. Começaram a partir da discussão de quem mexeu primeiro. Se mais pra direita, ou pra esquerda, foi que escorregou a inaugural viagem do osso. Uma não tinha dúvidas, a outra nem as procurara. Era um caso óbvio de perspectiva, dizia a de cima, ao afirmar que debaixo não se era possível obter o quadro geral da situação. Para a debaixo, era mais que evidente que a visão superior causava uma impressão fictícia na dimensão dos fatos - e que por fim, por certo, mexera-se ela inclusive tão meticulosamente que à outra sequer seria possível o movimento. Aí a injúria foi tamanha que a de cima, tentando ralar a mão na debaixo, escorregou-se para a esquerda numa dor inesquecível. Esbravejava convencida, sem sombra de curiosidade, que estava tudo errado. Depois de três dias assim, ninguém ainda havia se preocupado com a hérnia, cujos nervos já estavam à flor da pele.

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