16 de julho de 2010

Pensar no fim é uma síndrome

Pensar no fim é uma síndrome. Mas a cabeça que ela mantinha logo do lado da porta, imersa em formol, era feia demais. Algumas prateleiras acima, algumas outras olhavam pra mim, pra todos os lugares, um pouco confusas, deslocadas, soltas, descabeçadas. Ela me dizia, depois de ter fechado a porta atrás de si, o casaco sobre o sofá, um ar de conversa comum, que não é assim, a gente pensa livre, pensa solto, vai vivendo, pára de pensar no final, pára, que não faz bem e pode fazer mal, por mais que pra você pareça não fazer. É que pensar no fim cria umas barreiras sem que você veja, e aqueles formóis olhando pra mim, como que apontando pra mim, como se tudo tivesse assumido vida e estivesse me perguntando e aí, e aí, camarada, e aí? Tinha uma loira que devia ter sido bonita, agora era só um pouco desbotada, uma cara de nada, a tentativa de expressão de acaso, ou um pouco de sofrimento, eu não sei o que ela queria mostrar. Apontou brevemente para a porta com a cabeça - é lógico - mas eu não entendi, acho que era para o regulador de temperatura do apartamento. Enfim Julieta continuou falando sobre não dever perder tempo, entregar-se, cutucou sem querer a prateleira das cabeças, foi tirar um pó do vidro nomeado Caio, mas, enfim, acabou dizendo que eu não deveria me preocupar e que todo namoro deveria ser como quando tínhamos 10 anos e achávamos que iríamos casar.

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