9 de janeiro de 2010

25 dobras na cama

As coisas são todas excessivas sem ser nada. Eu abro a porta do quarto e espero ver uma barata entrar, e eu nem sou GH. Eu nem li GH. Tudo por aqui é excessivo, e o quarto é tão claro que eu pareço um doente mental. O abajur de bolinhas de gude é tipo um entretenimento ao tédio. E eu não estou entediada. Eu estou esperando uma grande catástrofe ambiental que não virá, e eu vou tremendamente me importar se ela vier; eu não quero morrer, eu não estou pronta para morrer e por mais que eu desgoste dessa madeira clara dos armários, eu não sinto vontade de arrancar e destroçar as portas. Eu poderia estar verdadeiramente calma, mas eu não cheguei lá ainda. Eu estava lá, agora estou no meio caminho entre lá e o que fica do outro lado. Eu estou no desfile de moda do IESB, fumando cigarros com Beto e Pi, pensando nas coisas erradas que eu pensava e fumando o cigarro errado que eu fumava. Gradações acima fazem tudo pelo sabor. Eu não me lembro de uma peça de roupa. E eu me lembro que no intervalo tudo pareceu errado, e as minhas razões ridículas, e eu era um amor como um escarro, eu estava na lateral do espetáculo, no acostamento, e ainda assim eu era um aconchego. eu tinha sido já, minha época tinha passado, eu ali era não como um leftover, eu era como um grão de arroz particularmente gostoso de se ver, como todos os outros. O grande ponto do "particularmente", sempre, é o particularmnte que também acompanha os outros que estão ali exatamente como você, vocês são a mesma coisa, e não deve ser ruim. Eu estou, pulando de cigarro pra cigarro, como numa câmera cinematográfica, fumando pelo nervosismo e pra parecer legal, na frente de um bar, namoros terminados, suspenses- suspenses não sei, o meu blazer que não sabia se ficava no ombro, se ficava na pele, se ficava nos braços, não sabia se ficava, se será se tava bom, e o cigarro terminava e começava outro e corria sob meus pés sem eu conseguir apagar e nada parecia legal, mas deveria. Todas as coisas mudavam, o semáforo ia vermelho verde amarelo as pessoas mudavam posições as pessoas faziam outras coisas mudavam circunstâncias mudavam disposições mudavam conversas mudavam de lugar e eu estava ali, o cigarro na mão, o cigarro no ar, o cigarro no chão, o pé no cigarro, o cigarro na mão, o cigarro no fogo, os olhos pra frente, os olhos pra frente e o blazer no ombro, o blazer nos dedos, o blazer nos braços, o blazer na pele, e essa porra de blazer será se tava bom, será que, A barata, não entrou, e eu não sou, gh. "O cinema é verdade, a história é mentira." "E malucou até duas da madrugada, sem achar furo." Quando olhaste bem nos olhos meus e o teu olhar era de adeus, juro que não acreditei, eu te agarrei pelos cabelos e quebrei sua têmpora na parede, no sustento da porta, eu te amarrei ao pé da cama e te alimentei do meu pijama . Bem agora nessa cidade pequena onde todos se conhecem. E aqui vem a barata. As salas de sexo estão todas vazias. No meu quarto há 237 lajotas.

Um comentário:

  1. putz nega, gostei tanto disso. gosto tanto da sua escrita. vc é muito foda. nossa nossa.

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