3 de dezembro de 2009

Passaram-se anos, e você, das notícias ditas, deve ter filhos, e ser casada, e ser feliz. Porque não haverias de sê-lo? A certeza da crueldade das coisas diz: você é feliz. Só por maldade, você é feliz. Sem mim, por lugares todos iguais, essas suas coisas todas iguais, esses seus sorrisos, você é toda igual. Você voltou ao lado certo dos pudicos irracionais e só atende a homens, toda a sua feminilidade gastada entre as mulheres foi-se embora, você é de homens, e seu passado te condena. Seus quadros das suas meninas queimados em fundo de quintal, naquele ano de mil novecentos e coisa, e seus prazeres todos novos, e seus filhos. Eu tento trabalhar, mas ainda me lembro de você. E suas pernas feias e todos esses homens aos meus pés, e todos eles pelos quais sempre fui apaixonada, e a memória das suas mãos horrendas esmagando meu amor em pedaços, jocando minha sexualidade rota aos seus pés. Eu te quero ainda agora aos quarenta como a menina dos vinte. Vinte anos são nada, eu queria que esses filhos fossem meus. Eu cederia; minha juventude, minha liberdade, meus prazeres pessoais pela prisão de filhos seus. Mas meu marido não deixa; nem meus filhos.

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