Não há nenhum problema, tudo está parado nesse quarto suspenso. Suspensas todas as roupas e os mistérios que você ergueu, todas as pilastras e os pés da cama aos quais você se agarrou, suas unhas e todas as conchas marinhas que você trouxe na volta das férias. Nos lençóis a areia da sua roupa de banho e o cheiro do sol do mar, e tudo o que eu perdi entre os temperos e as ervas que você jogou na minha comida. Todas as algas e as cordas que se agarram aos meus pés, minhas mãos que não costuram suas saídas de praia e suas saídas que também não acompanho mais. O quarto cheira a limpo, eu também. Jogadas no chão as meninas e meninos que consumimos, as Stellas, os Cabernet Sauvignon, Heinekens, nossa Bo(h)emia e os pinguins que trouxemos da Antárti( )a. Tudo o mais que virou besteira e os pedaços de sabão mortos. O Neruda que você não tomou nem leu. Caio Fernando Abreu em edições de bolso e Oscar Wilde em prateleiras fracas demais para seu peso. Também meu peso que medimos mal e todas as balanças que quebramos ao subir em conjunto. Todos os conjuntos cujas barras subimos e todas as barras de todas as grades de todas as coisas que vimos os outros quererem e viverem. Seu cd e o álbum que você deixou no banco do metrô em vinte e quatro de julho de dois mil e sete e a dobra calculada da quina do meu travesseiro. Também me lembro de Mário de Sá Carneiro falando que minha ponte não é a sua e etcetera e tal. E parecia fevereiro naquele dia em abril, mas faz tempo. Não sinto falta, mas também
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