19 de outubro de 2015

O ponto de exclamação se encurva, e então lhe tiram a foto. Tanta posição para se tirar, estivera horas a imaginar se alguém lhe via esboçando as melhores posturas, os olhares mais misteriosos, os ares mais interessantes. E na exata hora que lhe solta o botão do meio da camisa, batem-lhe a foto. Viu o flash e, enfim, resignado com a sorte, esqueceu-lhe - motivo pouco para perder o dia. Passa-se um dia, dois, um terceiro, e como quem nada procura, depara-se com a foto. Vê-se, em total, uma interrogação. O olhar do outro congelou em dúvida a sua aparência. Olha-se então no espelho, investiga-se, tem a sensação de que continua o mesmo, mas a dúvida da forma se torna o conteúdo, e então a exclamação principia a duvidar. Reflete, no vazio, o quê. Busca intensamente o sentido. Não afirma, questiona. A dúvida da pertinência da dúvida absorve-a de tal maneira que a razão de ser da questão se torna metafísica, nada prática. Irrefreáveis jogos mentais; nunca, afinal, fora boa de questionar. Se não mudara na estrutura, isto estava concluído, como poderia uma exclamação se confundir com uma interrogação?! Confundia-se; e, ademais, lá estava a foto. A camisa, entretanto, continuava com o botão do meio, já fechado, bem posta em seu armário.

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