26 de abril de 2025


Não tem jeito. Algumas coisas é melhor deixar como são. Por mais que a saúde pareça o tesouro da vida, como o próprio ar a que se respira, ainda assim os entorpecentes são tão fundamentais quanto. O peso de haver alma exige entorpecentes. De repente em um sábado tranquilo, com sol, vento e passarinhos, aparece a alma. Plena, como lhe é tão próprio, de incertezas. Plena de mim. Como se esquiva desses ágeis pensamentos, velozes, pungentes, precisos? Como me protejo de mim, se aonde vou estou? Como fazer planos para o futuro se o presente já é tão incerto no que está sendo e no que poderia ser? A inconstância como condição demanda o ópio como opção. Demanda um olhar enviesado, torto. Demanda alguns excessos. Eu, se transbordo, que faço com o incontido, com o aflorado, com o exposto? Que faço comigo? O espectro de possibilidades é exatamente como um prisma, tudo é a mesma coisa, apenas mais visível. Tudo sendo, ao seu jeito, junto, bagunçado, confuso e um tanto quanto mágico, feérico. Que bagunça. Quantas ilusões deliciosas. "A vida é sonho". Eita, que zona. Escrever é um jeito de existir.

14 de abril de 2025

Entro na água. Um pouco das ideias cai com a corrente, vão descendo, escorrem. O peito produz um ritmo próprio em que se respira e se desprende. As mãos pulsam, um pouco desordeiras, reflexões sentimentais. Os pés submergem. O seu barulho entrando na cena parece que quer mesmo a minha atenção. Eu dou. Um cheiro quente, entre o inodoro e o inebriante, dá uma pancada – você de costas se preocupa apenas com a água que cai. Se molha. Eu me ocupo. E com o tempo percebo com muita sutileza uma camada de consciência sua que sente, que está ali, que aguarda. E nesse súbito, em um qualquer sobressalto entre o banho e o fôlego, você esbarra o ombro no meu rosto de um jeito ocasional que quase passaria por descuido. Eu cheiro, e você permite.